sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Brás ensina a quem quer aprender

Lílian Stein

Esperava fugir do lugar-comum e, por isso, pensei em ignorar qualquer pauta que me exigisse apenas um pouco de apuração e o mínimo esforço para fazer um texto razoavelmente satisfatório. Havia ouvido sobre as ideias de alguns colegas e percebi que muitos deles também compreendiam que era hora de buscar algo mais. Restava saber o quê. 

É provável que uma das minhas experiências acadêmicas mais marcantes até agora tenha sido a visita de Rosina Duarte, uma das criadoras do Boca de Rua. O jornal é fruto de uma parceria entre jornalistas e moradores de rua – responsáveis por sugerir a pauta, apurar as informações e redigir a matéria. A ideia, que à primeira vista pode parecer absurda, deu certo. O Boca completou 10 anos em setembro, com tiragem de 8 mil exemplares em cada uma de suas edições trimestrais.

A terceira ida à Brás era marcada por uma espécie de ansiedade diferente. Ao mesmo tempo em que era preciso encontrar uma pauta que ainda anão havia sido abordada nas outras duas edições, sentia necessidade de fazer mais do que nas outras vezes. Foi nessa hora que lembrei do Boca de Rua.

Em conversas anteriores, o professor Eduardo Veras havia comentado a possibilidade de escolhermos moradores que, tal qual fazem os repórteres do Boca, sugerissem a pauta, apurassem as informações e redigissem a matéria. A ideia, no entanto, parecia difícil de ser posta em prática. Esse possível obstáculo caiu por terra quando eu e minhas colegas Daniela e Rafaela encontramos seis meninas ansiosas por escrever sua primeira matéria.
Fiquei responsável por orientar – e apenas isso – a Suélen e a Giovana. As duas têm 12 anos e estudam em uma escola municipal da Brás. Imaginei que a tarefa seria difícil e me demandaria um esforço que, ao fim, percebi ser dispensável. Impressionei-me com a desenvoltura de repórteres que pegavam bloco e caneta pela primeira vez. 

Saí da Brás orgulhosa e, mais do que isso, emocionada. O resultado da dedicação e talento de Giovana e Suélen é o que encerra as edições do Enfoque neste semestre. Para mim, fica a lição: cheguei a pensar que iria ensinar. Terminei com a certeza de que quem havia aprendido era eu.

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