sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Por uma mudança de enfoque

Priscila Zigunovas

A pauta da terceira visita à vila foi a mais difícil de fazer. Foi a primeira vez que eu cheguei à Brás com a pauta já definida: eu queria entrevistar o dono de uma empresa de moto táxi. A opção reserva era fazer a matéria com um grupo de grafiteiros da vila que tinham me sugerido na visita anterior.

Mas as duas pautas caíram. A primeira, porque o homem não queria matéria da empresa dele no jornal, e a segunda, porque não consegui encontrar as pessoas e nem me atenderam quando liguei. Eu tinha que achar uma pauta nova, e não estava fácil: todas as pessoas com quem eu falava diziam já terem sido entrevistadas muitas vezes, e não queriam perder tempo falando comigo. Muitas já tinham sido notícia na edição anterior do Enfoque, ou tinham dado entrevista naquele sábado mesmo. Até uma moça que costurava carteiras à mão, sentada num banco na rua, não quis conversar. "Estou cansada de dar entrevista", disse ela. "Já fizeram matéria minha umas cinco vezes."

Essa saturação de pautas vai piorar a cada semestre, a menos que se repense a proposta do jornal. Se precisamos continuar trabalhando na Brás, então que façamos não apenas matérias na vila, com os moradores, mas para eles. Podemos ocupar as muitas aulas ociosas da disciplina com a produção de matérias relevantes para a população do bairro, matérias de serviço, entretenimento, esportes e qualidade de vida, por exemplo, com espaço para reportagens e notas. Fazer jornalismo popular, mesmo, e lembrar que o Enfoque não é feito para ser lido na Unisinos, e sim na vila - mas nem por isso precisamos falar só da Brás.

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